Opinião: Associado da AMRIGS, médico urologista Gustavo Franco Carvalhal
Imagine que você seja um homem brasileiro. Agora imagine que exista um câncer muito comum em homens, e comum em brasileiros. No Brasil, o câncer de próstata é mais comum do que nos Estados Unidos em programas de rastreamento. Imagine ainda que este câncer possa ser letal. Tanto que é segunda causa de morte por câncer em homens norte-americanos e brasileiros. Agora imagine que você possa diagnosticar precocemente este câncer e tratá-lo de maneira eficaz, evitando que ele lhe mate. Pare de imaginar. PSA, toque retal, melhores tratamentos cirúrgicos e radioterápicos, reduziram a mortalidade por câncer de próstata em mais de 40% desde 1990 nos Estados Unidos. Não é um erro de tipografia. São 40% mesmo. Não são 4%.
Bem, é claro que nem todos precisam ser tratados. A maioria dos cânceres de próstata não vai levar à morte. Mais de 40% dos homens diagnosticados hoje com câncer de próstata apresentam doença de baixo risco de progressão. Eles são acompanhados e tratados somente na progressão da doença. Na evidência de tumores agressivos, parte-se para tratamentos potencialmente curativos. Que não são uma Disneylândia.
Cirurgia e radioterapia levam com frequência à impotência sexual, pois podem lesar nervos que transitam junto à próstata e prejudicar a ereção. Este problema é tratável, com medicações orais, injetáveis ou mesmo com próteses, quando necessário. A incontinência urinária, bem mais rara, também tem tratamento. Sempre pesamos estes riscos contra os riscos de uma morte com sofrimento, com metástases ósseas, dor, obstruções urinárias e caquexia. O paciente participa dessas decisões.
São raros os cânceres nos quais o diagnóstico precoce é possível através de exames sistemáticos. Próstata, mama, colo de útero, cólon e pele. Outros cânceres não costumam nos dar esta chance. A Sociedade Brasileira de Urologia (SBU) não indica o rastreamento populacional de todos os homens. O Brasil tem problemas mais prementes. Brasileiros morrem mais de tiro, facada e acidentes de trânsito do que de câncer de próstata. É a nossa triste realidade. Se está lendo este artigo, você é daqueles felizardos que tem acesso à informação. Aproveite. Não espere por sintomas. Consulte seu médico e discuta com ele a questão. Isso pode salvar sua vida.
