Discutir estratégias de prevenção ao bullying, uso de álcool e outras drogas em escolares foi tema central do 2º Seminário Temático de Ciência Aplicada à Gestão Pública, realizado na manhã desta terça-feira, 11, no Teatro Moacyr Scliar da Universidade de Ciências da Saúde de Porto Alegre, na rua Sarmento Leite, 245. O evento é uma iniciativa da prefeitura, pelas secretarias municipais de Saúde e Educação, e da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (Ufrgs), pelos programas de pós-graduação em Psiquiatria e Ciências do Comportamento e em Epidemiologia. Reuniu membros da gestão das secretarias e da Fundação de Assistência Social e Cidadania (Fasc), Ministério Público, academia e convidados.
A programação teve início às 8h30, com a participação do epidemiologista Bruce Duncan, professor de pós-graduação da Ufrgs. Segundo ele, dados epidemiológicos apontam que, atualmente, problemas materno infantis e infecciosas ocupam espaço muito pequeno na carga de doenças, sendo que a maior carga está nas doenças não transmissíveis, entre as quais a saúde mental. “Se conseguirmos identificar cedo os fatores de risco, poderemos interferir e prevenir o desenvolvimento do fator ou tentar eliminá-lo”, afirma. No Brasil, o uso de álcool e outras drogas está entre os principais fatores de risco. Conforme o epidemiologista, pesquisas recentes mostram que não há nível de álcool que seja protetor ou benéfico à saúde. “Beber com moderação não faz tanto mal, mas em nenhum momento faz bem. Assim, o desafio é tentar diminuir o consumo de álcool na população”, diz.
Ele acredita que devemos investir mais nas chamadas ações populacionais e menos em ações clínicas. Nesse ponto, são bem-vindas intervenções para baixar a prevalência dos fatores de risco, como foi feito em relação ao tabaco, por exemplo: aumentar taxas e impostos aos produtos, reduzir propaganda na mídia, aumentar a fiscalização de trânsito, propor novas leis que restrinjam o consumo, o que exige mobilização social e controle do lobby das empresas.
Os riscos e necessidade de estratégias de prevenção do consumo de álcool e outras drogas foi o tema abordado pelo professor Félix Kessler, da pós-graduação de psiquiatria da Ufrgs. De acordo com ele, relatórios do Escritório das Nações Unidas sobre Drogas e Crime (UNODC) mostram que a prevenção deve ser feita em vários níveis, para cada população e setor específicos. “Precisamos de projetos diferentes, intervenções dirigidas conforme o público”, comenta.
No caso de crianças, a proposta deve envolver treinamento de habilidades e educação emocional. Já os pais precisam de treinamento constante e duradouro sobre como manejar com os filhos, como se comunicar e dar exemplos. Na adolescência, conforme Kessler, envolve treinamento de habilidades sociais e, no início da idade adulta, o desenvolvimento de políticas públicas de diminuição do acesso e aumento da taxação de produtos como o álcool. Citou ainda a possibilidade de levar informação às mídias sociais, sites e redes e destacou o caso da Islândia, onde a sociedade se aproximou mais dos jovens, ampliando a fiscalização e o monitoramento. “A ideia é oferecer desafios, campeonatos, outras opções que estimulem a motivação para desviarem a atenção das drogas enquanto grupo”, afirma.
O papel da escola e os limites entre saúde e educação foi tema abordado pelo professor Augusto Buchweitz, da PUCRS. Após, o coordenador da área de Saúde Mental da SMS, Giovanni Salum, falou da situação atual na cidade e da necessidade de construir um planejamento conjunto que proponha ações de prevenção. Representando a Smed, a diretora pedagógica Maria Cláudia Bombassaro abordou a educação em Porto Alegre e as possibilidades para o futuro.
A discussão final contou com a participação do secretário municipal de Saúde, Erno Harzheim. Como resultado do seminário, a proposta é a criação de um grupo de trabalho que discuta um plano conjunto de prevenção para o município, a partir do qual as ações serão medidas. “Com o seminário, a ideia é intensificar ações de articulação entre as duas secretarias, especialmente num tema importante nas escolas, que é bullying, álcool e outras drogas”, informa Salum.