Médicos apontam principais sintomas e sugerem mudança de hábitos para enfrentar rotina tensa
Considerado um dos grandes males da atualidade, o estresse pode ter diversas consequências para a saúde como dores físicas, gastrite, problemas neurológicos, aumento do risco de infarto, aceleração do processo de envelhecimento e aumento de queda de cabelo. Médicos afirmam que as queixas dos pacientes relacionadas a essa excitação emocional são comuns e muitas vezes têm alterado até mesmo a imunidade destas pessoas.
O sócio da Associação Médica do Rio Grande do Sul (AMRIGS) e presidente da Sociedade de Cardiologia do Rio Grande do Sul (Socergs), Daniel Souto Silveira, destaca que o estresse oferece o mesmo risco de infarto que a diabetes, de duas a três vezes mais do que as pessoas saudáveis.
– O estresse libera adrenalina no corpo, o que faz o coração bater mais rápido. As artérias ficam estreitas e consomem mais oxigênio, sendo prejudicial para a saúde do coração. É preciso estar atento aos principais sinais, como palpitação, quando os batimentos disparam mesmo com a pessoa em repouso, e a pressão arterial controlada que começa a subir de forma repentina ” explica Silveira.
Além do coração, o cérebro é outro órgão do corpo que sofre e, inclusive, pode estar associado ao risco de doenças cardiovasculares, aumentando as chances para acidentes vasculares cerebrais (AVCs). A neurologista associada da AMRIGS, Maria Cecília de Vecino, comenta que o estresse emocional tem sido incorporado ao desencadeamento ou piora de doenças neurológicas.
– Sabemos que a enxaqueca pode ser desencadeada tanto por eventos estressantes quanto por alterações hormonais ou ingestão de alguns alimentos. Além disso, o estresse psicológico vem sendo considerado suspeito como participante ativo na esclerose múltipla. Já na epilepsia, nota-se uma piora do controle das crises com o aumento do nível de estresse, podendo este funcionar como um desencadeante ou fator precipitante ” expõe a médica.
Quedas de cabelo e a antecipação do processo de envelhecimento também estão entre as consequências do quadro emocional. De acordo com a sócia da AMRIGS e vice-presidente da Sociedade Brasileira de Dermatologia ” Secção RS (SBD-RS), Taciana de Oliveira Dal’Forno Dini, um estudo recente mostrou que 25% das mulheres com aumento crônico de queda de cabelos tiveram estresse psicológico.
– Este pode ser um importante fator extrínseco que influencia o processo de envelhecimento. No entanto, nenhum estudo demonstrou em humanos o mecanismo pelo qual este estresse crônico participa do envelhecimento da pele. Embora, um estudo em animais, publicado em 2015, mostrou o quanto o estresse psicológico crônico contribuiu para o envelhecimento da pele em camundongos ” comenta Taciana.
A ansiedade, que geralmente acompanha o estresse, também pode refletir em comportamentos como roer as unhas. A dermatologista alerta para o risco de contaminações intestinais por ingestão de microrganismos diversos que se encontram embaixo das unhas.
Além da contaminação intestinal, o aparelho digestivo pode, ainda, ser afetado de duas maneiras. A primeira pelo aumento do nível de acidez no estômago, podendo provocar azia, queimação, náuseas e vômito. Ao perceber estes sintomas, é aconselhado procurar por um especialista para examinar e investigar a situação.
– A outra forma de afetar o sistema digestivo é através da alteração do funcionamento do intestino, que em algumas pessoas pode provocar diarreia e em outras, prisão de ventre. Essa alteração do intestino provocado pelo estresse é conhecida como síndrome do intestino irritável ” explana o gastroenterologista associado da AMRIGS e coordenador da Prova AMRIGS, Antonio Carlos Weston.
Algumas medicações utilizadas para tratar os sintomas do estresse, como antidepressivos, anti-inflamatórios ou antibióticos também podem alterar o funcionamento do aparelho digestivo. De acordo com Weston, o ideal é fazer uma avaliação médica, pois às vezes existem maneiras de tratar as alterações sem implicar na suspensão destes medicamentos.
Essa representação física de problemas no corpo, de origem psicológica, é frequente também no sistema músculo esquelético e pode se apresentar de forma isolada ou por questões orgânicas que se intensificam.
– Pessoas que têm artrose na coluna e passam por um momento de estresse ou têm uma convivência crônica com estas situações, podem apresentar outras reações sintomáticas, como torcicolo e dificuldades de movimentação ” explica o ortopedista, sócio da AMRIGS, Carlos Francisco Jungblut.
O médico destaca ainda que o estilo de vida e alguns hábitos negativos que acabam se perpetuando dificultam que o paciente saiba lidar com questões estressantes. Para Jungblut, é preciso encontrar formas de conviver no cotidiano e indica a realização de atividades físicas e momentos de lazer e sociabilidade.