Opinião: Armaggedon: nem tanto assim!

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Opinião: Armaggedon: nem tanto assim!

Estive presente no evento Hospitalar 2019, em sua 29ª edição, e fiquei muito surpreso com as tendências da inovação em tecnologia que vêm sendo desenvolvidas no mercado nacional e internacional no que diz respeito à medicina. Muito do que foi falado está relacionado com a tão em voga “telemedicina” e foi, de fato, curioso ver como as grandes empresas estão se posicionando para explorar o mercado.

De presidentes de startups a diretores do National Health Sistem (NHS) do Reino Unido, todos tiveram a opinião comum de que a falta de tecnologia não é o problema para um aprofundamento da automatização dos processos médicos, mas de que questões culturais e legais são sim os reais fatores que ainda freiam o processo. Termos como armazenamento em nuvem, Big Data, inteligência artificial, tele-consulta e automatização foram os ”Top Five“ do evento, mostrando dados que, até certo ponto, são surpreendentes. Certo palestrante de uma empresa espanhola alegou ter desenvolvido um algoritmo que dava o diagnóstico correto (96% de certeza) de 14 patologias que correspondem à aproximadamente 80% das demandas da atenção primária. Seria, enfim, o surgimento da Skynet da medicina? Aquela dos filmes, a qual subjuga todos os que não se curvam a ela, trazendo fim à função do médico como provedor de saúde? Bobagem. Por mais inovadoras que possam ser, essas novas tecnologias carecem de resultados consistentes na literatura hoje. Ainda mais grave, esses processos automatizados pecam ao tratar o paciente como uma doença e não como um indivíduo, esquecendo que a doença não é o antagonista da saúde. Saúde é muito mais que combater doenças. Saúde é prevenção, é integralidade, é empatia.

Creio que, no Ciclo de Hype, todo esse processo de novas tecnologias ainda está no pico do otimismo para a sua real utilização. Há muita euforia quanto às possibilidades e com certeza algo de bom será retirado no final. Todavia, é preciso cautela quanto às expectativas: a telemedicina não resolverá todos os problemas relacionados à falta de acesso à saúde e sim será mais uma ferramenta de auxílio para evitar iatrogenias, para facilitar processos burocráticos e administrativos e, com certeza, facilitar a prestação de serviços no setor privado. Acreditar que a teleconsulta não será uma prática clínica nos próximos 50 anos é uma falta de visão de mercado, pois as facilidades de acesso, praticidade e ganho de tempo que esta ferramenta traz são evidentes, ainda mais na nossa sociedade cada vez mais simbiótica aos aplicativos de celular, computadores e tablets – além de todo o capital já investido para alavancar o setor. Mas há de se ter em mente que, para o uso seguro e adequado da telemedicina, é peremptório uma regulamentação e fiscalização dos órgãos jurídicos e corporativos sobre o assunto, os quais, por sinal, até o momento deixaram muito a desejar. Para o setor público, pouco pôde ser aproveitado no evento em função do atraso e sucateamento do Sistema Único de Saúde. Imagina, falar de teleconsulta num país que nem sistema de prontuário nacional unificado existe é surreal.

Se John Connor saísse das telas do cinema seria o primeiro a defender a telemedicina, mesmo tendo um ódio mortal pelos cérebros de metal e microprocessadores. Adaptar-se será um processo mandatório para aqueles que desejam explorar um mercado cada vez mais ascendente. Mas não se enganem aqueles que querem nos substituir: pelo menos por enquanto, só o médico tem a sensibilidade de perceber a mensagem que um sorriso emite, a dor que uma lágrima refere, a angústia que um olhar revela.

Antônio Ley

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