No dia 23 de outubro, às 10h, o Instituto da Mama do Rio Grande do Sul (IMAMA) irá promover uma caminhada, do Parque Moinhos de Vento (Parcão) até o Parque da Redenção, em alusão ao Outubro Rosa e à prevenção do câncer de mama. A “Caminhada das Vitoriosas” é uma ação que visa conscientizar a população sobre a importância da luta contra o câncer de mama, o qual acomete, atualmente, em torno de 60 mil mulheres brasileiras por ano. O IMAMA-RS convida a participar, sempre com a missão de conscientizar a sociedade gaúcha sobre os cuidados com a saúde da mama, principalmente em Porto Alegre, capital com maior incidência de casos desse tipo, e cujo diagnóstico tardio é o responsável pela alta taxa de mortalidade da doença.
Saiba se prevenir
A prevenção do câncer de mama pode ser dividida em três partes:
Prevenção primária – Tudo aquilo que pode ser feito para evitar a ocorrência do câncer.
Prevenção secundária – Diagnóstico precoce e prevenção da recidiva.
Prevenção terciária – Medidas para minimizar o impacto da doença já estabelecida, na qualidade de vida das pessoas.
Prevenção Primária
O câncer de mama é em parte decorrente de uma série de fatores de risco:
Idade avançada.
Predisposição genética hereditária.
Histórico familiar.
Menarca precoce.
Menopausa tardia.
Radioterapia prévia na região do tórax.
Mamas densas.
Obesidade.
Sedentarismo.
Alcoolismo.
Tabagismo.
Terapia de reposição hormonal (após a menopausa).
Dentre estes, constam fatores que podem ser considerados fatores modificáveis e outros não modificáveis (idade, histórico familiar, mamas densas).
Dentre os fatores modificáveis, você pode ajudar a prevenir o câncer mantendo um peso saudável, uma dieta balanceada, fazendo atividade física, não fumando, não ingerindo bebidas alcoólicas em excesso.
Além disso, para mulheres na menopausa, é aconselhável não fazer reposição hormonal, ou fazê-lo sob orientação estrita de um médico.
Havendo fatores não modificáveis, o que pode e deve ser feito é uma investigação (no caso de haver história familiar de câncer de mama ou ovário), para identificar a possível presença de uma predisposição genética hereditária, e com base nesta avaliação, poder tomar decisões sobre intervenções redutoras de risco, discutidas abaixo.
Esta avaliação e a decisão de fazer testes genéticos, somente devem ocorrer após uma orientação adequada, geralmente feita por um oncogeneticista.
Embora seja difícil quantificar a diminuição do risco de câncer de mama especificamente promovida por uma intervenção como, por exemplo, perda de peso, vale ressaltar que todas as intervenções em fatores modificáveis trazem também benefícios para a saúde em outras esferas, não apenas no câncer de mama.
Além destas medidas de intervenção em fatores de risco, existe a intervenção medicamentosa redutora do risco. Nesta estratégia, mulheres com um risco calculado maior que o da população geral, podem tomar tamoxifeno ou raloxifeno por 5 anos, sendo que estas medicações reduzem de maneira significativa o risco de se desenvolver câncer de mama, e esta redução perdura por vários anos, mesmo após o término dos 5 anos de tratamento com a medicação.
Lamentavelmente, esta prevenção medicamentosa ocorre às custas de efeitos colaterais, como ondas de calor, sudorese exacerbada e retenção de líquido e que não são bem toleradas pelas mulheres em tratamento.
Pacientes com predisposição genética (hereditária) ao câncer de mama
Há alguns aspectos na história pessoal e familiar de pacientes que nos fazem pensar na possibilidade de uma predisposição genética. São estes fatores:
Câncer de mama diagnosticado antes dos 50 anos em parentes de primeiro ou segundo grau.
História de parentes com câncer de mama ou de ovário.
Familiar com câncer de mama em ambas as mamas; ascendência judia Aschkenazi.
Parente homem com câncer de mama.
Embora haja diversas mutações genéticas hereditárias que podem predispor ao desenvolvimento de câncer de mama, aquelas mais frequentemente associadas ao câncer de mama (e de ovário) são as mutações nos genes denominados BRCA1 e BRCA2. Apenas 10% dos casos de câncer de mama diagnosticados são consequência destas mutações, mas para uma pessoa que tenha uma destas mutações, o risco de desenvolver câncer de mama (ou ovário) ao longo da vida é de mais de 50%.
Assim, quando se sabe que uma mulher é portadora de uma destas mutações, é necessária uma discussão aberta sobre medidas de prevenção, que podem ir desde um seguimento mais frequente e com exames mais sofisticados, como ressonância magnética das mamas, passando por medicações como tamoxifeno, até cirurgias redutoras de risco, como mastectomia profilática ou retirada profilática dos ovários.
Prevenção Secundária
Aqui entram estratégias de rastreamento populacional, assim como estratégias individualizadas em função do histórico familiar ou pessoal.
O rastreamento mais comum é a mamografia. Recomenda-se que a mamografia seja feita a partir dos 40 anos de idade de maneira anual. Não há idade limite para a realização de mamografia, sendo que o bom senso dita que quando uma mulher tiver uma expectativa de vida curta, não faz mais sentido rastrear o câncer de mama.
O ultrassom das mamas serve como complemento à mamografia, pois ajuda a diferenciar cistos de nódulos, mal diferenciados na mamografia.
A ressonância magnética é recomendada para o rastreamento apenas em populações de alto risco, como pacientes com história familiar e pacientes sabidamente com predisposição genética ao câncer ou pacientes que já tiveram um primeiro câncer de mama. Nas pacientes com alto risco definido com base em história familiar ou genético, a recomendação é iniciar o rastreamento aos 30 anos de idade.
Prevenção Terciária
Consiste em intervenções com objetivo de minimizar a perda de qualidade de vida decorrente da doença.
Quem Procurar”
Uma mulher que queira prevenir o câncer de mama deve, antes de qualquer coisa, ter um médico (ginecologista, mastologista, geriatra) de confiança com o qual possa discutir esta preocupação.
Com base na idade da paciente, no seu histórico familiar, e na presença e gravidade de outras doenças que ela possa ter, o médico pode propor estratégias diferentes de prevenção.
Em linhas gerais, a prevenção consiste em:
Exame clínico anual das mamas por um profissional de saúde.
Mamografia anual ou bianual, a partir dos 40 anos de idade (em mulheres com risco equivalente ao da população geral).
Para mulheres identificadas como tendo um risco maior que o da população geral, com base no histórico familiar de outros casos de câncer de mama ou ovário, a recomendação pode ser por uma estratégia de rastreamento ainda mais precoce, e até o encaminhamento para um oncogeneticista.
Este profissional pode, a partir de uma elaborada história familiar e de um heredograma, árvore da família no que tange a outros casos de câncer, calcular o risco de uma paciente desenvolver câncer, com base em vários modelos matemáticos.
Com o resultado deste risco calculado, pode então ser necessário o encaminhamento para um mastologista que pode propor uma cirurgia redutora de risco, ou para um oncologista que poderá propor medidas medicamentosas para prevenção.
No Brasil, onde a mamografia de rastreamento é recomendada pelo Ministério da Saúde a partir dos 50 anos toda mulher a partir desta idade deve procurar uma Unidade Básica de Saúde para solicitar o exame das mamas por um profissional médico e uma mamografia.
Cabe ressaltar que mulheres a partir dos 40 anos de idade, que procurarem uma Unidade Básica de Saúde, têm amparo na Lei (Lei 11664/08) para solicitar que seja feita mamografia de rastreamento, apesar da falta de recomendação formal pelo Ministério da Saúde.
Além disso, se no autoexame (atualmente se fala em autoconhecimento das mamas), a mulher notar qualquer alteração, ela deve procurar um médico (ginecologista, mastologista, clínico geral, geriatra ou oncologista). Este deverá fazer o exame clínico das mamas e solicitar a mamografia independentemente da idade da paciente.
Quimioprevenção do Câncer de Mama
Quimioprevenção é o uso de medicamentos para reduzir o risco de câncer. Existem vários medicamentos que possibilitam a redução do risco de câncer de mama:
Tamoxifeno – Bloqueia alguns dos efeitos do estrogênio no tecido mamário. É usado para reduzir o risco de recidiva do câncer de mama localizado e como tratamento para o câncer de mama avançado, quando o tumor é receptor de estrogênio positivo. Os efeitos colaterais do tamoxifeno incluem aumento do risco de câncer de endométrio, câncer em mulheres menopausadas e coágulos sanguíneos nas pernas ou pulmões. O tamoxifeno parece reduzir o risco de câncer de mama em mulheres com mutações no gene BRCA2 que nunca tiveram câncer de mama.
Raloxifeno – Assim como o tamoxifeno, o raloxifeno também bloqueia o efeito do estrogênio no tecido mamário. O raloxifeno tem menos efeitos colaterais comparados ao tamoxifeno, embora o risco de coágulos de sangue ainda esteja acima do normal. Assim como o tamoxifeno, só reduz o risco de câncer de mama para tumores receptores de estrogênio positivo. O raloxifeno ajuda a reduzir o risco de câncer de mama em mulheres após a menopausa que têm osteoporose ou estão em alto risco para câncer de mama.
Inibidores de Aromatase – Medicamentos, como o anastrozol, letrozol e exemestano são inibidores de aromatase usados na prevenção da recidiva do câncer de mama. Eles bloqueiam a produção de pequenas quantidades de estrogênio produzidas na menopausa. Um estudo mostrou que o exemestano diminui o risco de câncer de mama invasivo em 65% das mulheres na pós-menopausa que têm um risco aumentado de câncer de mama. Assim, como o tamoxifeno e o raloxifeno, o exemestano reduz o risco de câncer de mama de tumores receptores de estrogênio positivo. Os efeitos colaterais dos inibidores de aromatase incluem dores articulares e rigidez. Estes medicamentos também podem levar à perda óssea, aumentando o risco de osteoporose e fraturas.
Outros Medicamentos – Alguns estudos mostraram que as mulheres que tomam ácido acetil salicílico ou anti-inflamatórios não esteroides, como o ibuprofeno parecem ter um menor risco de câncer de mama. Os bisfosfonatos usados “”principalmente para tratar a osteoporose, também podem reduzir o risco de câncer de mama, além de serem usados “para tratar a disseminação da doença para os ossos.
Cirurgia Preventiva para Mulheres de Alto Risco
Mastectomia Profilática – A retirada de ambas as mamas antes do diagnóstico da doença pode reduzir em até 97% o risco de câncer de mama. A retirada da mama não impede completamente o câncer de mama. Algumas das razões para considerar este tipo de cirurgia incluem:
Mutações nos genes BRCA.
Histórico Familiar.
Carcinoma lobular in situ na biópsia.
Câncer em uma das mamas.
Ooforectomia Profilática (Retirada dos Ovários) – Mulheres com mutações no gene BRCA podem reduzir o risco de câncer de mama em 50% ou mais se tiverem seus ovários removidos cirurgicamente antes da menopausa. Isto é provável porque a cirurgia remove as principais fontes de estrogênio no corpo (os ovários).