A Escola Nacional de Saúde Pública (Ensp/Fiocruz) terá o primeiro laboratório do país voltado exclusivamente para avaliação do sono em populações expostas aos riscos químicos e físicos do trabalho. O Laboratório do Sono, vinculado ao Centro de Estudos da Saúde do Trabalhador e Ecologia Humana (Cesteh/Ensp), analisará a organização e as escalas de trabalho dos profissionais, além de propor intervenções para reduzir a sonolência, efetuar diagnóstico, tratar problemas de sono e incentivar a redução de acidentes. O projeto, com previsão de inauguração em 2016, está sob coordenação da pesquisadora Liliane Reis Teixeira.
A partir de 2008, quando assumiu o cargo de pesquisadora do Cesteh/Ensp, Liliane passou a se articular com especialistas que trabalham os aspectos relacionados ao sono na população exposta a agentes químicos, físicos, biológicos e organizacionais no trabalho, dedicando-se a diversos projetos de avaliação do ciclo vigília-sono. Em sua trajetória profissional, pesquisou a influência do sono no rendimento escolar de jovens e adolescentes, além dos casos de acidentes noturnos com perfurocortantes, ruído no trabalho, entre outros.
“O trabalho em horários não diurnos está associado à fadiga, privação de sono, pior desempenho e expõe os profissionais a riscos de incidentes e acidentes no desempenho de sua função. Também já são comprovados casos de distúrbios reprodutivos (em mulheres), cardiovasculares e endócrinos, por meio de liberação crônica de adrenalina e cortisol, principalmente catecolaminas, que tendem a diminuir defesas imunológicas do organismo. Outro fator importante é a exposição às substâncias químicas e físicas em horários do ciclo circadiano diferentes do usual, quando as capacidades de eliminação de um xenobiótico podem estar reduzidas”, informou a pesquisadora responsável pelo projeto, ao comentar as consequências da irregularidade de sono em quem trabalha à noite ou em turnos.
Especificamente em relação à ausência de sono, Liliane explica que não ter um horário fixo para dormir afeta o relógio biológico e o sincronismo do corpo humano. “Estar privado do sono, dormir menos a cada dia ou dormir sempre em horários diferentes pode interferir no ritmo da temperatura do corpo que é fundamental para iniciar o sono. O sistema digestivo do trabalhador também é prejudicado”, admitiu. Neste último caso, segundo a pesquisadora, quando uma pessoa se alimenta em horários distintos daquele que organismo está acostumado, a assimilação dos nutrientes é inadequada, o que pode acarretar a Síndrome Metabólica. “Em algumas profissões, o trabalhador recorre ao medicamento para repousar, o que pode provocar um ciclo vicioso”, alertou.
O Laboratório do Sono tem a pretensão de ser um local de referência para tratamento, pesquisas e ensino relacionados ao ciclo vigília-sono aplicado à saúde do trabalhador. Além do trabalho, o desemprego, o estudo e as atividades desenvolvidas no lar também serão analisados. O laboratório terá isolamento acústico e será composto de dois quartos, um banheiro, uma antessala (recepção e sala de espera), uma copa e uma sala de monitoramento. “Grande parte da população ativa estará contemplada”, assegurou Liliane.