Emergência em saúde: trabalho em equipe e espírito de liderança são indispensáveis

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Emergência em saúde: trabalho em equipe e espírito de liderança são indispensáveis

IV Congresso do Departamento Universitário da Associação Médica do Rio Grande do Sul reuniu especialistas no assunto de urgência e emergência

Atuar na emergência de um hospital ou estabelecimento de saúde é uma das mais ricas oportunidades de aprendizado para o médico recém-formado. Para compartilhar um pouco do conhecimento sobre o tema, o IV Congresso do Departamento Universitário da Associação Médica do Rio Grande do Sul trouxe profissionais renomados para debater habilidades, rotinas e oportunidades.

O encontro foi realizado de forma híbrida ao longo de sábado (10/09), com apresentações no auditório da AMRIGS e transmissão via plataforma Sympla. Durante a solenidade de abertura, a presidente do Departamento Universitário, Amanda Ribeiro, destacou a importância de levar conhecimento técnico-científico na área para os estudantes.

“Urgência e Emergência é algo que estará presente em algum momento na vida de todos nós. Por isso, procuramos trazer para o debate especialistas em áreas diversas que podem dividir essa vivência com a gente”, afirmou.

O diretor de Comunicação da AMRIGS e coordenador do DU, Dr. Marcos André dos Santos, destacou a oportunidade de realizar o encontro de forma presencial, trocando experiências e permitindo um aprendizado importante.

“O congresso é feito por acadêmicos para acadêmicos de Medicina. Tenham certeza que tudo foi feito com muito empenho, pensando em cada um de vocês, para que recebam não só o conhecimento, mas para que tenham a possibilidade de estarmos todos juntos”, declarou.

O presidente da Associação Médica do Rio Grande do Sul, Dr. Gerson Junqueira Jr, referiu que o trabalho do Departamento Universitário é motivo de orgulho para a entidade, valorizando a importância do Congresso.

“O futuro da nossa Associação e categoria médica passa por vocês. A escolha do tema da edição deste ano foi muito acertada. A área da urgência e emergência traz uma oportunidade muito rica de aprendizado”, afirmou.

A primeira apresentação do dia trouxe uma reflexão sobre como é o primeiro plantão de cada estudante de Medicina. O médico emergencista Luiz Fernando Varela, ensinou macetes importantes para quem está iniciando. O palestrante é emergencista do Hospital Moinhos de Vento e HPS de Porto Alegre e supervisor do programa de Residência Médica de Medicina de Emergência do Hospital Moinhos de Vento, membro da Câmara Técnica de Emergência do CREMERS e sócio-fundador da Associação Brasileira de Medicina de Emergência (ABRAMEDE).

“Não ganhamos para trabalhar, a gente resolve problemas. Então, entre os macetes que eu sugiro está entender e praticar a liderança. As pessoas vão esperar de vocês tomada de decisão e atitude”, salientou.

O impacto da tecnologia e da inteligência artificial foi apresentado pelo palestrante Dr. Jamil Cade. É especialista em Clínica Médica, Cardiologia e Cardiologia Intervencionista e Hemodinâmica pela Universidade de São Paulo e foi aluno do curso Stanford Ignite da Universidade de Stanford Graduate School of Business, onde foi selecionado com o projeto de telemedicina em pacientes com trauma.

“Hoje o processamento computacional é muito mais rápido e mais barato. Se não tivéssemos a evolução tecnológica, não poderíamos fazer o processamento de dados médicos como fazemos hoje. Os computadores são cem milhões de vezes mais rápidos. Todos nós ganhamos, seja como paciente ou como profissional da área da saúde”, destacou.

As emergências neurológicas foram abordadas pela médica Helena Fussiger, neurologista. Através de apresentação de casos, ela explicou condutas e procedimentos comuns com pacientes.

A dor torácica na emergência foi a temática apresentada pelo médico cardiologista Marcelo Rava de Campos. Ele discorreu sobre situações que se confundem como Infarto Agudo do Miocárdio.

“Existe um universo de outras situações e pela anamnese e exame físico, conseguimos identificar. A avaliação precisa ser feita de forma cuidadosa e detalhada, mas fundamentalmente é preciso ter acolhimento. Se o paciente não confia, ele não fala”, disse.

O tema seguinte foi relacionado ainda ao abdômen. A dor comum nessa região do corpo pode representar diferentes quadros médicos que foram detalhados pelo médico Rogério Fett Schneider, cirurgião do trauma.

Também durante a manhã, a médica Cássia Wippel, ginecologista e obstetra, falou sobre emergências ginecológicas.

Durante a tarde, no auditório da AMRIGS, a palestra do pediatra intensivista e emergencista João Carlos Santana, abordou a questão da humanização no setor de emergência. Segundo Santana, os médicos precisam estar preparados para os desafios nesta área de muita exigência aos profissionais da saúde porque trabalham sob muita pressão

“É importante fazer com que as pessoas compreendam o que estamos falando. A gente se comunicar com afeto às vezes é mais importante do que se comunicar profissionalmente. Doença e doente são coisas diferentes, varia caso a caso. Trabalhar o conhecimento com a equipe ajuda na evolução do trabalho” destacou o chefe da Unidade de Emergência Pediátrica do Hospital de Clínicas de Porto Alegre (HCPA).

Na sequência, o oncologista Rafael José Vargas, professor adjunto I do curso de Medicina da Universidade Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre (UFCSPA) e supervisor do programa de Residência Médica em Oncologia Clínica da UFCSPA/Santa Casa, ministrou palestra sobre a oncologia na emergência. Em sua fala, Vargas ressaltou que todos os médicos precisam saber como lidar com pacientes que apresentam condições agudas causadas pelo câncer pois, nesses casos, é exigida uma rápida intervenção médica.

“Todos os médicos deveriam atender emergências oncológicas. Esses pacientes que vivem com câncer são na maioria idosos. Recomendo sempre fazer um bom exame físico, buscar um histórico. É importante saber para qual profissional encaminhar o paciente. O atraso no diagnóstico pode ser fatal”, explicou.

Em 1983, três médicos emergencistas da Califórnia, notando que passaram a atender um número cada vez maior de acidentes em áreas remotas, ocorrências médicas como picadas de abelhas, escorpiões, insolação e alergias por contato com plantas silvestres, montaram um grupo de estudos para definir melhores protocolos para estas ocorrências. Dando continuidade ao evento, o cirurgião Geral Günther Ayala realizou uma apresentação com foco na medicina em áreas remotas, utilizando o caso dos anos 80 como exemplo. Ainda na conversa com os alunos, Ayala contou sua experiência no resgate dos feridos no incêndio da Boate Kiss ocorrido em 2013, em Santa Maria. Também apontou características que o profissional desta área da medicina precisa contar.

“O médico de áreas remotas precisa ser polivalente, inventivo. O cara tem que ser um MacGyver”, brincou com a plateia.

O cirurgião defendeu ainda a criação de uma liga da Medicina de áreas remotas no Rio
Grande do Sul para fortalecer a categoria no Estado.

Diretamente de Boston, nos Estados Unidos, o especialista em medicina de emergência, Roger Daglius Dias, proferiu palestra online no congresso sobre o uso da simulação e a utilização da realidade virtual no setor de emergência. O foco da pesquisa do professor foram ferramentas virtuais que simulam a realidade para melhorar o trabalho do profissional em áreas de risco com pouco recurso material adequado à atividade médica.

“A intenção não é substituir, mas aumentar a capacidade cognitiva do profissional de saúde, elevar a qualidade do trabalho”.

De acordo com Daglius Dias, a simulação realística feita como treinamento mede o estresse vivido pelos profissionais que atuam nas emergências. O pesquisador mostrou também que o treinamento virtual projeta cenários de guerra para treinar o médico na tomada de decisão em situações mais realistas, sempre em áreas remotas sem recursos. Ele pontuou ainda que essas tecnologias ainda são extremamente caras até mesmo nos EUA, onde o investimento em ciência é bastante alto.

O médico Otávio Cunha, que atua em cirurgia geral no Hospital Divina Providência e em cirurgia do trauma no Hospital Pronto Socorro de Canoas, mostrou em sua apresentação como gerenciar uma lista de pacientes de emergências. Diante dos alunos de Medicina, mostrou como usar ferramentas digitais para organização da rotina nas emergências, procedimento fundamental para um bom trabalho. Cunha detalhou como agendar os processos com cores diferentes por meio de um aplicativo e intercalar diferentes tipos de consultas. Além disso, indicou um intervalo fixo entre as consultas.

O psiquiatra Felix Kessler, chefe do Serviço de Psiquiatria de Adições e Forense do HCPA, demonstrou aos alunos, durante sua apresentação, técnicas de como enfrentar situações em que os pacientes chegam às emergências com sinais de abuso de álcool e drogas. Ele pontuou que é uma tarefa muito difícil conhecer e identificar sintomas de intoxicação em um primeiro momento do atendimento.

“Cada tipo de droga tem sua peculiaridade. Umas causam dano físico, outras dano mental e é preciso saber diferenciá-las”.

O médico mostrou como os futuros profissionais devem lidar com a questão da overdose por drogas de pacientes que vão parar nas emergências hospitalares com alto grau de intoxicação. Também trouxe relatos de pacientes que tiveram problemas com entorpecentes.

Na sequência, o psiquiatra André Luiz Schuh subiu ao palco do auditório da AMRIGS e instruiu os alunos sobre como encarar o primeiro plantão médico em uma emergência psiquiátrica.

“Assim como o primeiro amor, o primeiro plantão a gente nunca esquece. A intervenção psiquiátrica requer uma intervenção imediata. É necessário falar com calma com o paciente, mas ao mesmo manter a firmeza”, recomendou o médico.

Para encerrar o evento, o médico com título de especialista em Cardiologia, Medicina de Emergência e Clínica Médica, que atua no Atendimento Pré-Hospitalar de Emergência (SAMU) e SOS Unimed, Lucas Celia Petersen, orientou a busca pela prevenção mesmo em atendimentos de emergência e fez uma simulação com a participação de estudantes, mostrando como é o atendimento aos pacientes que apresentam sintomas de problemas no coração.

Durante o Congresso, também foi realizado painel sobre assuntos institucionais como a Prova AMB/AMRIGS de Residência Médica, pautas da Associação dos Estudantes de Medicina do Rio Grande do Sul (AEMED-RS), da Associação dos Médicos Residentes do RS (AMERERS) e do Conselho Regional de Medicina do RS (CREMERS).

Avaliação e premiação de trabalhos científicos

Após o encerramento das rodadas de palestras, o IV Congresso do Departamento Universitário da AMRIGS contou, também, com apresentações de trabalhos científicos por meio de banner digital e apresentação oral, divulgando a lista com os trabalhos melhor avaliados.

O evento foi organizado e promovido pelo Departamento Universitário da AMRIGS, composto por acadêmicos de Medicina, com a representação de mais de 20 universidades do Rio Grande do Sul. O patrocínio foi de Unicred, Simutec, Grupo AGL Medicon, Degree Travel, CTSEM, PEBMED e FIBRA.

Fonte: Marcelo Matusiak e Airton Lemos
Fotos: Marcelo Matusiak e Joseane Santos

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