Doação de órgãos
A doação de órgãos é um ato de caridade e amor ao próximo. A cada ano, muitas vidas são salvas por esse gesto altruísta. A conscientização da população sobre a importância da doação de órgãos é vital para melhorar a realidade dos transplantes no País. Veja, a seguir, algumas informações sobre doação e transplante de órgãos. O transplante é um procedimento cirúrgico (regulado pela Lei nº 9.434/1997 e Lei nº 10.211/2001) no qual um órgão ou tecido doente é substituído por outro saudável. Para isso, é preciso que haja doadores – vivos ou mortos. Qualquer pessoa pode ser doadora, exceto portadores de doenças infecciosas ativas ou de câncer. Fumantes, em geral, não são doadores de pulmões, mas podem doar outros órgãos e tecidos. Hoje mais de 80% dos transplantes são realizados com sucesso.
Um único doador pode salvar ou melhorar a qualidade de vida de mais de vinte pessoas.
O cidadão que deseja ser doador não precisa assinar nem pagar nada, basta comunicar sua família para que, caso necessário, o procedimento seja autorizado. Para doações em vida, o doador deve ter mais de 18 anos de idade e o receptor deve ser cônjuge ou parente consanguíneo (pais, filhos, irmãos, avós, tios ou primos). Se não houver parentesco, será preciso autorização judicial. Os órgãos e tecidos doados percorrem um caminho definido: constatada a morte cerebral, o hospital aciona a coordenação hospitalar de transplante, que entrevista a família. Autorizada a doação, a coordenação hospitalar avisa a Central de Notificação, Captação e Distribuição de Órgãos (CNCDO) do Estado, que seleciona os receptores e avisa as equipes de transplante para irem ao hospital remover os órgãos do doador e levá-los ao local onde será realizado o transplante. A morte cerebral, ou encefálica, é a parada irreversível da função do encéfalo (cérebro e tronco cerebral). Ela ocorre quando o cérebro deixa de receber fluxo sanguíneo e não executa mais suas funções vitais. A constatação da morte encefálica é feita por pelo menos dois médicos, um deles neurologista, a partir de exames clínicos realizados em intervalo de diversas horas. A morte cerebral deve ser confirmada por um exame de imagem, que pode ser arteriografia cerebral, eletroencefalograma ou doppler transcraniano. A morte cerebral é diferente da morte cardíaca: a primeira permite a doação de órgãos e tecidos; a segunda, só a doação de tecidos.
Paciente em coma não é doador, pois seu quadro pode ser revertido.
Órgãos, tecidos e células (medula óssea) podem ser transplantados. O doador vivo pode doar um rim, parte do fígado, parte do pulmão, parte do pâncreas e a medula óssea – esta última pode ser feita até por crianças e mulheres grávidas, por não acarretar nenhum risco ao doador. No caso do doador falecido podem ser doados coração, pulmões, rins, fígado, pâncreas, córneas, pele, ossos e válvulas cardíacas.
Números dos transplantes no Brasil
90% dos transplantes realizados no País são feitos por meio do SUS
548 Estabelecimentos de saúde fazem parte da rede
1.376 Equipes médicas em todo o Brasil são autorizadas a realizar transplantes no País
25 Estados participam do sistema de captação de órgãos, por meio das Centrais Estaduais de Transplantes, que controlam a lista de espera pelos órgãos e toda a logística do processo de doação e transplante em cada estado.
Os pacientes nas listas de espera formadas nas Centrais de Transplantes das Secretarias Estaduais de Saúde aguardam a chamada, mas sua vez pode demorar: a lista de espera por um pulmão, por exemplo, é renovada anualmente, pois a maioria morre sem conseguir um doador.
No Brasil, anualmente, 60 pessoas a cada 1 milhão apresentam morte cerebral, representando aproximadamente 12 mil pessoas. Destas, em tomo de 6 mil (50%) poderiam ser doadoras de órgãos. Têm a necessidade de receber um transplante de órgão a cada ano:
14 mil pessoas para rim
6 mil pessoas para fígado
1.600 pessoas para coração
1.600 pessoas para pulmão
400 pessoas para pâncreas
200 pessoas para intestino
Mitos e verdades
A família precisa arcar com os custos relacionados à doação. O doador ou sua família não têm custos nem ganho financeiro, sendo apenas entregue uma carta de agradecimento pelo gesto solidário e humano. O receptor também não precisa pagar pela cirurgia de transplante. A condição social e/ou financeira do receptor não importa quando se está numa lista de espera. O que realmente conta é a gravidade da doença, tempo de espera, tipo de sangue e outras informações médicas importantes. Quem arca com os custos dos procedimentos relacionados aos transplantes é o Sistema Único de Saúde (SUS), que também se responsabiliza pelo fornecimento, durante toda a vida, das medicações necessárias para evitar a rejeição do órgão transplantado. Um idoso ou uma pessoa que já tenha tido alguma doença não podem ser doador. Todas as pessoas podem ser consideradas potenciais doadores, independentemente da idade ou do histórico médico. O que determinará a possibilidade de transplante e quais os órgãos e tecidos que podem ser transplantados é a condição de saúde no momento da morte e uma revisão do histórico médico do paciente. Os recentes avanços da medicina na área de transplantes garantem que mais pessoas possam ser doadoras e que haja mais receptores. Religião é impedimento para doação. Todas as religiões pregam os princípios de solidariedade e amor ao próximo, que são as principais características do ato de doar.·A grande maioria das religiões é francamente favorável à doação, enquanto outras deixam a critério de seus seguidores a decisão de serem ou não doadores. Até mesmo as religiões que são contrárias a transfusão de sangue não interferem na decisão de doação. A doação deixa o corpo deformado. Os órgãos e tecidos doados são removidos por meio de uma operação cirúrgica. Portanto, a doação não desfigura o corpo, que pode ser velado normalmente, podendo ser inclusive cremado. Uma pessoa-que se manifesta doadora pode ser sequestrada e ter seus órgãos roubados. O transplante de órgãos exige cuidados médicos especiais, exames laboratoriais e ação rápida. Um coração ou um pulmão, por exemplo, devem ser transplantados, no máximo, entre quatro a seis horas. Além disso, a cirurgia de remoção de órgão deve ser realizada em centro cirúrgico, com toda assepsia necessária. Isso inviabiliza o mito de pessoas desaparecidas que ressurgem sem um rim. A história de sequestros de pessoas para venda de órgãos, divulgada pela internet, é fantasiosa e não se baseia na realidade dos transplantes de órgãos no País. Se os médicos souberem que um paciente quer ser doador, não vão se esforçar para salvá-Io. A equipe médica que atende uma pessoa na emergência não é a mesma que promove a retirada de órgãos para transplante. A primeira tem como prioridade salvar vidas, não tendo conhecimento sobre a decisão da pessoa de ser doadora ou não; a segunda só atua depois de anunciada a morte e com o consentimento da família. Não é verdade que os médicos do setor de emergência podem não se esforçar para salvar a vida de uma pessoa, da qual se conhece o desejo de ser doadora.
O que pode ser doado
Coração
O transplante, recomendado a pessoas com insuficiência cardíaca que não respondem a nenhum tratamento ou cirurgia, pode ser realizado somente por doador falecido, com morte encefálica constatada. O índice de sobrevida dos transplantados é de cerca de 85% no primeiro ano.
Córneas
Transplantes de córnea, parte do olho que controla a passagem de luz para a retina, só podem ser realizados a partir de doadores falecidos, com idade entre 2 e 80 anos. Entre as doenças graves que podem afetar a córnea estão o ceratocone e a distrofia do endotélio.
Pele
O transplante de pele é indicado para pessoas que sofreram grande perda de pele, seja por queimadura ou por alguma doença dermatológica grave. Ela pode ser obtida de doadores falecidos ou, ainda, de pessoas que tiveram a pele removida em cirurgias estéticas.
Pulmão
Transplante indicado para pessoas com doença pulmonar grave, tais como enfisema, fibrose cística e fibrose pulmonar. Em situações especiais, para crianças, urna parte do pulmão pode vir de um doador vivo (são necessários dois doadores para um receptor). O índice de sobrevida dos “transplantados é de cerca de 78% no primeiro ano.
Pâncreas
O pâncreas é uma glândula que atua na digestão dos alimentos e produção de insulina, elemento químico responsável pelo equilíbrio dos níveis de açúcar no sangue. Esse transplante é realizado geralmente junto com o transplante de rim em pessoas diabéticas com sérios problemas renais, a partir de doador falecido. O índice de sobrevida dos transplantados é de cerca de 86% no primeiro ano.
Sangue
Este é o tipo de doação que todo mundo conhece e que pode ser feita em qualquer hemocentro, onde o sangue será utilizado quando for necessária uma transfusão. O doador deve apresentar boa saúde, ter entre 18 e 65 anos, pesar mais de 50 quilos, entre outros critérios. Antes da doação, um questionário é aplicado para verificar se as pessoas podem ou não ser doadoras.
Rim
Como cada pessoa possui dois rins, este órgão pode ser doado também em vida, geralmente para um parente próximo. A doação beneficia pessoas com insuficiência renal crônica por nefrite, hipertensão, diabetes e outras doenças relacionadas aos rins. O índice de sobrevida dos transplantados é de cerca de 95% no primeiro ano.
Fígado
Maior órgão do corpo humano, o fígado tem capacidade de regeneração. Dessa maneira, uma pessoa pode doar parte de seu fígado em vida. Esse transplante é realizado principalmente em casos de cirrose hepática. O índice de sobrevida dos transplantados é de cerca de 85% no primeiro ano.
Ossos
Vários ossos ou fragmentos de ossos do corpo humano podem ser transplantados por meio de cirurgias simples. Esse procedimento pode ser realizado em casos bastante variados, como, por exemplo, implantes dentários, enxertos para lesões da coluna e próteses. Os ossos doados podem ser mantidos em um banco por longo tempo.
Válvulas cardíacas
Em muitos casos não é possível utilizar para transplante o coração de uma pessoa que teve morte encefálica, mas, nessa situação, as válvulas cardíacas podem ser doadas e enviadas para um banco de válvulas, onde são mantidas por anos e utilizadas em pessoas com doenças da válvula do coração.
Medula óssea
Encontrada no interior dos ossos, a medula óssea é responsável por produzir os componentes do sangue e utilizada para a cura de doenças que afetam as células do sangue, como a leucemia. É a única forma de doação permitida a crianças e gestantes e também a única que mantém um banco de doadores.
Novas possibilidades
Médicos brasileiros investigam ainda a possibilidade de transplante de outros órgãos, tecidos e células, como intestino, membros superiores, face, traquéia, laringe, ilhotas de pâncreas, células neuronais e hepatócitos.
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