Nota de Esclarecimento AMRIGS e SGI sobre Mpox

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Nota de Esclarecimento AMRIGS e SGI sobre Mpox

Organização Mundial da Saúde declara a doença infecciosa como uma emergência de preocupação global

Recentemente, a Organização Mundial da Saúde (OMS) declarou a Mpox, anteriormente conhecida como varíola dos macacos, como uma emergência de saúde pública de importância internacional. Essa decisão foi motivada pelo aumento expressivo e preocupante dos casos da doença fora das regiões endêmicas da África, o que trouxe à tona questões urgentes sobre a transmissão, diagnóstico, tratamento e prevenção global.

A Secretaria Estadual da Saúde (SES) do Rio Grande do Sul informou, no dia 19 de agosto, que o estado tem cinco casos confirmados de mpox em 2024: três casos são de moradores de Porto Alegre, um caso é de uma pessoa residente em Gravataí e o outro é de um morador de Passo Fundo. Todos os registros são da cepa anterior do vírus e não da nova, que fez a Organização Mundial da Saúde (OMS) declarar emergência sanitária global em razão da doença.

A Associação Médica do Rio Grande do Sul (AMRIGS) junto à Sociedade Gaúcha de Infectologia (SGI) esclarecem aspectos relacionados.

Disseminação global do tipo 1

Historicamente, a Mpox era uma doença restrita a áreas rurais da África Central e Ocidental, onde o contato direto com animais infectados era a principal via de transmissão. No entanto, o tipo 1 do vírus, identificado na República Democrática do Congo, mostrou-se mais virulento e letal. Este tipo é mais agressivo em comparação ao tipo 2, presente na África Ocidental, e possui uma taxa de mortalidade mais alta, entre 1% e 10%, dependendo do contexto clínico e dos recursos de saúde disponíveis.

A disseminação da Mpox tipo 1 para regiões fora da África Central, incluindo Ruanda, Uganda, Quênia e Buruni, tem gerado grande preocupação. A OMS apontou que o aumento global de casos em 2024 superou os registros anteriores, com mais de 20 mil casos confirmados e mais de mil mortes relatadas em vários países. Essa expansão geográfica, aliada à sua virulência, resultou na necessidade de medidas de saúde pública mais intensivas e coordenadas internacionalmente, em um contexto de um mundo globalizado.

Manifestações clínicas e grupos de risco

As manifestações clínicas da Mpox incluem febre, linfadenopatia (ínguas) e lesões de pele características, que podem evoluir para a formação de pus e crostas. A distribuição das lesões tende a ser mais concentrada na face, palmas das mãos e solas dos pés, mas pode afetar qualquer parte do corpo, incluindo genitais e mucosas. Em casos mais graves, elas podem ser extensas e acompanhadas de sintomas sistêmicos mais pronunciados, como infecções secundárias e complicações respiratórias.

Os grupos de risco incluem indivíduos imunocomprometidos, como pessoas vivendo com HIV sem tratamento, crianças pequenas, gestantes e idosos. Nessas populações, a Mpox pode evoluir de forma mais grave, com maior risco de complicações e morte.

Transmissão e diagnóstico

A Mpox é transmitida por meio do contato direto com lesões de pele, exposição a secreções respiratórias e outros fluidos corporais, ou mesmo materiais contaminados, como roupas e superfícies. A transmissão de pessoa para pessoa também pode ocorrer, especialmente em casos de contato próximo prolongado, em convivência domiciliar e por relações sexuais. Além disso, o vírus pode ser transmitido de mãe para filho durante a gravidez, parto ou amamentação.

O diagnóstico da Mpox é usualmente realizado por métodos moleculares, como a reação em cadeia da polimerase (PCR), que detecta o DNA viral em amostras coletadas das lesões cutâneas ou de outras secreções corporais. A detecção precoce é crucial para o manejo clínico adequado e para a implementação de medidas de contenção, especialmente em ambientes onde a transmissão comunitária é possível. No Brasil, os Laboratórios Centrais de Saúde Pública já disponibilizam de teste por PCR para Mpox.

Tratamento e prognóstico

Atualmente, não há tratamentos antivirais específicos aprovados para a Mpox, desta forma o manejo da doença é focado principalmente no alívio dos sintomas e na prevenção de complicações. Pacientes com formas leves de manifestação geralmente se recuperam sem a necessidade de tratamento específico, mas casos graves podem exigir intervenções mais intensivas, como o uso de antibióticos para infecções secundárias, suporte respiratório, e em alguns casos, internação hospitalar, muitas vezes para tratamento da dor, associada com as vesículas.

Apesar da ausência de um tratamento curativo, a maioria dos pacientes se recupera completamente, embora o período de recuperação possa ser prolongado, com cicatrizes permanentes em alguns casos. No entanto, a capacidade de transmissão do vírus durante a fase ativa da doença é um desafio significativo para a contenção de surtos, especialmente em contextos onde o diagnóstico é pouco disponível e o isolamento adequado dos pacientes não é possível.

Vacinação e desafios de disponibilidade

Embora a vacina contra a varíola humana também proteja contra o Mpox, esta vacinação foi interrompida no Brasil no início da década de 1970, devido à erradicação da doença no nosso país. Mais recentemente, a vacina Imvanex MVA-BN, também conhecida como Jynneos, que também foi desenvolvida contra a varíola, mostrou-se eficaz na prevenção da Mpox. Estudos observacionais indicam que a vacina oferece uma proteção significativa, especialmente quando administrada em duas doses, e é eficaz tanto para a profilaxia pré-exposição quanto pós-exposição.

Entretanto, um dos maiores desafios enfrentados atualmente é a disponibilidade limitada dessa vacina. Embora ela esteja disponível em alguns países para grupos de alto risco e em resposta a surtos, a maioria das regiões do mundo ainda enfrenta dificuldades para obter doses suficientes. Essa limitação reflete não apenas questões de produção e distribuição, mas também a necessidade de priorização em contextos de maior risco epidemiológico.

Conclusão

Segundo o chefe do Serviço de Infectologia da Santa Casa de Porto Alegre, professor de Infectologia da Universidade Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre e presidente da Sociedade Gaúcha de Infectologia, Dr. Alessandro C. Pasqualotto, a declaração da OMS de que a Mpox é uma emergência de saúde pública de importância internacional sublinha a necessidade urgente de ações coordenadas para conter a disseminação global da doença. Com a propagação do Mpox tipo 1 fora das regiões endêmicas da África, a vigilância epidemiológica, o diagnóstico precoce, e a implementação de estratégias de vacinação são essenciais para mitigar os impactos da Mpox. Embora a maioria dos pacientes se recupere sem tratamento específico, a gravidade da doença em populações vulneráveis e a capacidade de transmissão entre humanos justificam uma resposta robusta e sustentada. Devemos continuar a trabalhar em conjunto para garantir que as ferramentas necessárias para prevenir, diagnosticar e controlar a Mpox estejam disponíveis para todos, independentemente da localização geográfica.

Fonte: Marcelo Matusiak

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