Novas ferramentas e muita tecnologia na luta contra o câncer

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Novas ferramentas e muita tecnologia na luta contra o câncer

A afirmação de que não há cura para o câncer avança a passos largos para ser cada vez mais relativa. A evolução constante de novas tecnologias permite um olhar com mais esperança na luta contra os diversos tipos de tumores. Além de pesquisas e estudos impactantes na área, há, hoje, um melhor entendimento de como funciona a doença e quais as melhores condutas para salvar vidas e aprimorar a qualidade de vida dos pacientes.

Para compreender melhor o assunto, conversamos com o chefe do Serviço de Oncologia e Hematologia Pediátricas da Santa Casa de Porto Alegre e presidente da Sociedade Brasileira de Oncologia Pediátrica, Cláudio Galvão de Castro Junior.

Revista AMRIGS – O que é a Próton Terapia e que benefícios ela promete trazer ao paciente?

Cláudio Galvão – Trata-se de um tipo de radioterapia. A radioterapia constitui-se de aplicar radiação (por exemplo o Raio X) diretamente no tumor matando o mesmo ou inibindo seu crescimento. Quando usamos prótons, o efeito é o mesmo que o da radioterapia convencional, mas preservamos as estruturas normais que estão próximas ao tumor, diminuindo os efeitos colaterais. É particularmente interessante para crianças, principalmente se tratando de tumores do sistema nervoso central (tumores cerebrais). A grande limitação é o custo dessa terapia, tanto que nenhum centro no Brasil ainda possuiu esse tipo de equipamento. Nos Estados Unidos são poucos os locais que dispõem desses equipamentos.

Revista AMRIGS – Que outras evoluções são impactantes?

Cláudio Galvão – O que basicamente vem acontecendo é o melhor entendimento dos mecanismos de gênese dos tumores e conhecimento de mutações e alvos críticos nas neoplasias que podem ser usados para tratar os pacientes. Um exemplo impressionante é a Leucemia Mielóide Crônica, que tem uma mutação bem conhecida, onde um pedaço do cromossomo 9 se junta a um pedaço do cromossomo 22. Esse cromossomo conhecido como Filadélfia tem uma mutação chamada BCR-ABL que produz uma proteína chamada tirosino quinase. Usando esse conhecimento foram desenvolvidos medicamentos que tratam a doença, antes só curada com transplante de medula óssea. Assim, pacientes com leucemia mielóide crônica precisam tomar apenas um comprimido por dia para terem sua doença absolutamente sob controle por décadas, sendo que alguns podem ficar totalmente curados sem precisar mais da medicação. Isso sem nenhuma toxicidade como as vistas no tratamento quimioterápico.
O uso das células do próprio paciente, os chamados linfócitos T, para tratar doenças também já é realidade. Uma tecnologia chamada BITE, como que gruda a célula T ao tumor, fazendo com que esse seja destruído. Isso já acontece com as leucemias. As chamadas CAR T Cells também são uma inovação. As próprias células dos pacientes são modificadas para tratar o tumor. É claro que tudo isso tem um custo elevado e vai lentamente sendo incorporado ao tratamento.

Revista AMRIGS – A evolução da medicina caminha para uma possível redução do número de pacientes com câncer ou esse desafio é muito distante ainda?

Cláudio Galvão – Sim e não. Já reduzimos o número de pacientes com câncer de pulmão no Brasil com as campanhas antitabagismo. A vacina contra o HPV (Papiloma vírus humano), aplicada na adolescência, vai diminuir o número de casos de câncer de colo uterino. A vacina contra hepatite B e os tratamentos contra hepatite B e C diminuíram os casos de câncer no fígado. Mesmo em crianças, agora tenta-se entender o mecanismo da gênese de alguns casos de câncer como as leucemias agudas. No caso de crianças em particular, cerca de 90% dos casos de câncer NÃO são transmitidos por herança genética, ou seja, não são herdados do pai ao da mãe. Todavia, evidências indicam que alterações ocorridas durante a gestação podem predispor ao câncer infantil. Entender quais exatamente são essas alterações e se é possível agir para preveni-las ou identificá-las é um desafio futuro.

Existe um outro aspecto às vezes esquecido, que é o fato de vivermos mais tempo. Quanto mais vivemos, maior o número de mutações e assim a possibilidade de aparecimento de câncer aumenta. Por isso, a resposta à pergunta acaba sendo sim e não. Então já existem medidas práticas para diminuir o número de casos.

Revista AMRIGS – Qual será o papel do mapeamento genético na investigação dos casos?

Cláudio Galvão – Fundamental. Para que se entenda melhor, na maioria das vezes as alterações genéticas estão restritas aos tumores e não às células normais do indivíduo. Então, quando falamos em mapeamento genético do tumor, estamos examinando somente a doença. Em cerca de 10% dos casos olhamos também as células do indivíduo, já que existem alguns tumores que podem ser transmitidos por herança genética. Assim, o tipo de teste a ser feito é escolhido conforme o paciente, sua idade e o tipo de tumor.

Com o avanço do conhecimento, existem mutações que podem ser atacadas por alguns tipos de drogas específicas. Já foi lançado no mercado um medicamento, chamado larotractinibe, que se destina apenas a pacientes com uma determinada mutação, no caso uma que se denomina TRK. Somente quem tem essa mutação no seu tumor beneficia-se desse medicamento, independente de idade ou do tipo e localização do tumor.

Em minha opiniãoe na de muitos especialistas, em poucos anos o mapeamento dessas mutações será essencial para qualquer tipo de neoplasia. O custo desses exames, ainda elevado, vem caindo progressivamente.

Cláudio Galvão de Castro Junior
Chefe do Serviço de Oncologia e Hematologia Pediátricas da Santa Casa de Porto Alegre
Presidente da Sociedade Brasileira de Oncologia Pediátrica
Títulos de especialista em: Hematologia e Hemoterapia, Pediatria, oncologia Pediátrica e Transplante de Medula Óssea.

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