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“O tempo para mim nunca foi motivo para deixar de fazer o que se tem vontade”

Vida de Médico – Themis Reverbel da Silveira

Aos 81 anos, Themis Reverbel da Silveira pode se dizer realizada. Define-se como uma equação matemática: M3 + P2 = Themis, pois é mãe, médica, mulher, professora e pesquisadora. Acima de tudo, é feliz.

“Tenho 81 anos e, como diz Lya Luft, minha amiga de muitos anos: há “perdas e ganhos”. Há, sem dúvida, um frágil equilíbrio entre dúvidas e certezas, mas, para que no final o saldo seja positivo, aprendi que a gente não deve “se economizar”, não deixar para “mais tarde”. O tempo, para mim, nunca foi motivo para deixar de fazer o que se tem vontade.

Quando penso em minha jornada, gosto de dividi-la em três capítulos, que me satisfazem amplamente. Como médica, e por isso escrevo este texto, minha maior lição foi acompanhar as crianças, os adolescentes e suas famílias nos transplantes de fígado do Hospital de Clínicas de Porto Alegre. O dia a dia no hospital convivendo com aqueles que aguardam a esperada doação de órgãos me possibilitou valorizar na sua plenitude: solidariedade, generosidade, entrega; e a repensar o significado da responsabilidade de poder contribuir para a felicidade dos outros. Conviver, de um lado, com a esperança de quem recebe uma nova oportunidade de vida e, de outro, com a suprema dor de quem perdeu um ente querido ensina a humildade e estimula a coragem.

Como mãe, tenho três filhos homens (Fernando, Pedro e Thomaz), que conduzem suas vidas e de suas famílias, de maneira que me faz especialmente feliz. A lição que penso ter aprendido, como mãe, é respeitar as diferenças e ser tolerante. O Fernando e a Ana trabalham em Informática e vivem no Canadá há muitos anos. Deles tenho dois netos lindos, Marco e Julia. Pedro e Sandra são advogados. Pedro ingressou na carreira diplomática e têm duas filhas maravilhosas, a Joana e a Marina. Thomaz, professor de Direto Internacional em Santa Maria e Aline, promotora em São Gabriel, me deram o Lorenzo, meu neto mais novinho.

Por fim, como mulher, nasci em 1º de maio de 1938, na região da campanha, em São Gabriel – terra dos Marechais – de família classe média. Pai advogado. Daí o nome Themis, era para ser advogada (aliás, quando criança fui madrinha do Foro de São Gabriel). Mãe professora e fazendeira que, embora não tenha feito Direito, trabalhava bastante no escritório com meu pai. Uma espécie de rábula.

Quando penso em toda minha trajetória, muito me orgulha ver que hoje, mais da metade das vagas da Medicina são ocupadas por meninas, o que me encanta. Sou feminista “de carteirinha” desde sempre, pois em 1958, quando iniciei na Faculdade de Medicina, um dos “trotes” preferidos dirigidos às raras “calouras” era a obrigação de servir cafezinho, para os veteranos, no Centro Acadêmico Sarmento Leite, sorrindo e cantando ”Medicina é papa fina, não é coisa prá menina”. Cá estou eu, provando o contrário.

Sou professora permanente dos Programas de Pós-graduação em Saúde da Criança e do Adolescente e de Ciências em Gastroenterologia da Faculdade de Medicina da UFRGS, tendo orientado até agora dezenas de alunos de Mestrado e Doutorado na UFRGS e mais recentemente na UFCSPA. Fiz vários estágios de aperfeiçoamento em Hepatologia e Gastroenterologia no exterior com duração variável de 2 a 12 meses, na França – Hospital Kremlin-Bicêtre/Paris em duas ocasiões, e no Canadá – Hospital Sick-Children/Toronto, em três ocasiões.

Chegar aos 80 em plena atividade é muito bom. Não é triste, nem feio ser velha. Lembro-me das palavras do professor Vanderhoof: o que nos faz como professores e médicos nos sentirmos bem ao envelhecer e olhar o tempo que está passando é: a) lembrar os pacientes que cuidei; b) lembrar as atividades para as quais contribuí; c) lembrar jovens que ajudei a treinar; e e) saber que nesta trajetória não esqueci amigos, família e colegas.”

Uma resposta

  1. Dra Themis, cuidou de meus filhos. Morávamos em Rondônia e, pelas mãos de um anjo que Deus colocou em nossas vidas, Ela nos foi indicada. Grandiosa sua trajetória, sua contribuição para a humanidade como médica e pesquisadora. Gratidão pela paixão e comprometimento que dedicaste a medicina. Rosani Rockstroh Celi

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