Choque de gerações, expectativas familiares e excesso de informações estão entre os fatores que afetam os futuros médicos
Alta carga de conteúdos, estágios, monitorias e diversas publicações científicas estão entre as demandas que muitos estudantes de medicina enfrentam durante a formação acadêmica. A rotina é reflexo de uma realidade bastante difícil e que, em muitos casos, pode resultar em estresse e no desencadeamento de doenças psíquicas.
– Identificamos que muitos acadêmicos estavam apresentando um nível muito grande de ansiedade, estresse e alguns casos de depressão. Está começando a haver um diálogo sobre o assunto entre estudantes e diretorias das faculdades, visto que cabe a eles também tornarem o ambiente mais agradável. Além disso, acredito que os próprios alunos podem criar iniciativas para ajudarem uns aos outros, como um grupo de apoio ” destaca o presidente do Departamento Universitário da Associação Médica do Rio Grande do Sul (AMRIGS), Antônio Ley, que frequenta o 6º semestre do curso de medicina na Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS).
Para o professor de psiquiatria da Universidade de Caxias de Sul (UCS), Carlos Gomes Ritter, o choque de gerações é um dos principais aspectos que está relacionado ao estresse acadêmico.
– Os alunos de hoje são da geração Z, nascidos após 1995, muitas vezes com comportamentos diferentes do que os professores se prepararam. Enquanto temos de um lado alguém dizendo “me obedece”, eles questionam por que precisam pensar igual ao professor. Além disso, essa geração, pelo grande volume de informações, também tem dificuldades de aprofundar os conteúdos ” destaca Ritter.
A velocidade, outra característica da sociedade contemporânea, também tem atrapalhado a formação acadêmica. Conforme o professor, muitos estudantes que ainda estão em formação buscam, com cada vez mais pressa, preencher requisitos para avançar na carreira.
O presidente da Associação de Psiquiatria do Rio Grande do Sul (APRS), Flávio Shansis, também associado da AMRIGS, reforça as expectativas que precisam atender ao ingressar na universidade, um ambiente altamente competitivo.
– Os alunos, geralmente bem jovens, precisam aprender muito e tornam-se médicos em um tempo relativamente curto. Eles representam também a expectativa da família e da comunidade, o que gera uma grande angústia. Neste ambiente, é preciso cumprir prazos e tarefas e muitos vão se desligando de si. Entre o jovem que entra cheio de sonhos e o médico que se forma já mais endurecido e cansado, passam-se seis anos muito difíceis ” complementa Shansis.
Sobre as formas de lidar com a situação, o psiquiatra afirma que cabe fundamentalmente às faculdades se prepararem para terem formas de ensino e metodologias menos cansativas e mais conectadas com os jovens. Além disso, as instituições também devem estar mais atentas às necessidades dos alunos.
O tema foi debatido em um evento realizado pelo Departamento Universitário no Centro de Eventos AMRIGS, no sábado (02/09), reunindo estudantes, diretores da entidade, representantes de universidades e do Conselho Regional de Medicina.