Entrevista: Brasil é campeão mundial no consumo de agrotóxicos

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Entrevista: Brasil é campeão mundial no consumo de agrotóxicos

Desde 2008, o Brasil ocupa o primeiro lugar no ranking mundial de consumo de agrotóxicos. Enquanto nos últimos dez anos o mercado mundial desse setor cresceu 93%, no Brasil, esse crescimento foi de 190%, de acordo com dados divulgados pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). Segundo o Dossiê Abrasco – um alerta sobre o impacto dos agrotóxicos na saúde, 70% dos alimentos in natura consumidos no país estão contaminados por agrotóxicos. 
Desses, segundo a Anvisa, 28% contêm substâncias não autorizadas.  De acordo com a Agência, mais da metade dos agrotóxicos usados no Brasil hoje são banidos em países da União Europeia e nos Estados Unidos. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), entre os países em desenvolvimento, os agrotóxicos causam, anualmente, 70 mil intoxicações agudas e crônicas.
Pensando no quanto esse assunto é importante para a saúde da população e seguindo com as ações da Campanha Saúde Preventiva: Pratique Essa Ideia! e acompanhando os assuntos abordados nas Caravanas AMRIGS* pelo interior do Estado, a Associação Médica do Rio Grande do Sul tratou sobre o tema com o membro da Câmara Técnica de Medicina do Trabalho do CREMERS e do CFM, Dr. Dirceu Francisco de Araújo Rodrigues. Ele participou recentemente do IV Fórum de Medicina do Trabalho do Conselho Federal de Medicina (CFM) e abordou o consumo de agrotóxicos químicos no Brasil.
“Exemplificando em números, em 2015, 80% de todo morango e pepino consumidos, assim como 67% da cenoura estavam contaminados por defensores agrícolas”, disse Dr. Diceu, que destacou ainda que o desafio de diminuir as intoxicações alimentares é em nível mundial e depende da formulação e implementação de políticas capazes de garantir simultaneamente o desenvolvimento econômico e o desenvolvimento social.
“O uso do inseticida Malathion para combate do mosquito Aedes Aegypti, por exemplo, é absorvido por todas as vias humanas conhecidas e é um provável cancerígeno. O desenvolvimento ambiental, social, cultural e economicamente sustentável são primordiais. E a proibição de pulverização aérea de produtos tóxicos é necessária. O controle químico de endemias só devem ser utilizados em ultimo caso, quando houver risco eminente de epidemia e atendendo a todas as normas de segurança”, ressaltou.  
Para o médico, o uso dessas substâncias está altamente associado à incidência de doenças como o câncer e outras doenças genéticas. Devido à gravidade do problema, o Ministério Público Federal enviou um documento à Anvisa recomendando que seja concluída com urgência a reavaliação toxicológica de uma substância chamada glifosato e que a agência determine o banimento desse herbicida no mercado nacional. Essa mesma substância acaba de ser associada ao surgimento de câncer, segundo um estudo publicado em março deste ano pela Organização Mundial da Saúde (OMS) juntamente com o Inca e a Agência Internacional de Pesquisa sobre o Câncer (IARC). Ao mesmo tempo, o glifosato foi o ingrediente mais vendido em 2013 segundo os dados mais recentes do Ibama.
Em resposta ao pedido do Ministério Público, a Anvisa diz que em 2008 já havia determinado a reavaliação do uso do glifosato e outras substâncias, impulsionada pelas pesquisas que as associam à incidência de doenças na população. Em nota, a Agência diz que naquele ano firmou um contrato com a Fiocruz para elaborar as notas técnicas para cada um dos ingredientes – 14, no total. A partir dessas notas, foi estabelecida uma ordem de análise dos ingredientes de acordo com os indícios de toxicidade apontados pela Fiocruz e conforme a capacidade técnica da Agência.
Dr. Dirceu Rodrigues relata que é preciso a criação de novos paradigmas que coloquem o ser humano no centro, como razão do desenvolvimento, mas que necessita ser ambientalmente, socialmente, culturalmente e politicamente sustentável. “Em nível conceitual, é possível o uso do agrotóxico em quantidade segura, contudo é necessário que os órgãos de fiscalização atuem de forma mais efetiva no controle dos níveis introduzidos nos alimentos”, destacou.
O médico finalizou ressaltando que deve ser priorizado o controle químico como método de controle de endemias somente em último caso, quando as demais ações e métodos cientificamente comprovados já tiverem sido realizadas e em caso de iminência de epidemia.  
Prevenção possível, mas “salgada” para o bolso
O consumo de alimentos orgânicos, que não levam nenhum tipo de agrotóxico em seu cultivo, é uma alternativa para se proteger dos agrotóxicos. Porém, ela ainda é pouco acessível à maioria da população. Em média 30% mais caros, esses alimentos não estão disponíveis em todos os lugares. As dificuldades no cultivo desses alimentos livres de agrotóxicos começa na falta de mão de obra qualificada. Os adeptos deste tipo de plantio precisam de pessoas que saibam “mexer na terra”, pois os cuidados são imensamente maiores visto que as plantas estão livres de defensores agrícolas.
O pimentão é o campeão
Segundo um levantamento da Anvisa, o pimentão é a hortaliça mais contaminada por agrotóxicos (segundo a Agência, 92% pimentões estudados estavam contaminados), seguido do morango (63%), pepino (57%), alface (54%), cenoura (49%), abacaxi (32%), beterraba (32%) e mamão (30%). Há diversos estudos que apontam que algumas substâncias estão presentes, inclusive, no leite materno.
Dicas para evitar o consumo:
Sempre que possível, consuma alimentos orgânicos disponíveis em supermercados e em hortifrutis. 
Outra opção é consumir as carnes de animais provenientes da criação verde ou orgânica, um método para abate feito em pasto aberto e com alimentação sem resíduos químicos.
Lavar o alimento e tirar a casca não são atitudes 100% eficientes para evitar os agrotóxicos, pois muitas vezes eles são aplicados diretamente nas sementes, mas ajudam.
Endocrinologistas orientam deixar o alimento de molho em uma solução de 1 litro de água e uma colher de sopa de bicarbonato de sódio por 30 minutos.
Tirar a casca e as folhas externas das frutas e verduras elimina parte considerável dos agrotóxicos, mas também manda embora alguns nutrientes.
Prefira produtos da época colhidos na região em que você mora. Quando cultivado fora da estação ou destinado a percorrer grandes distâncias, o alimento recebe cargas maiores de agrotóxico.
Diversifique a alimentação para reduzir a chance de exposição a um mesmo agrotóxico usado pelo agricultor.
*As Caravanas que ocorrerão em Cruz Alta (26/set.) e Santa Rosa (14/out.) terão como tema “Os Agrotóxicos e os Riscos à Saúde”. Como palestrantes, os eventos contarão com as presenças das doutoras Vanda Garibotti, Virginia Dapper e Regina Michel. Para mais informações, ligue: (51) 3014.2007 com Maria da Graça Schneider (gerente de Defesa Profissional AMRIGS e organizadora das Caravanas). 
Fonte: Anvisa

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