Pacientes que nasceram ou perderam a capacidade do sistema imunológico de combater doenças infecciosas vão melhorar a qualidade de vida. A Agência Nacional de Vigilância Sanitária aprovou a venda da imunoglobulina subcutânea, proteína que exerce a função de anticorpos.
O único tratamento existente era com injeção intravenosa. Agora pode ser subcutânea, aplicada por meio de uma infusão sob a pele. A nova técnica dispensa horas de aplicação e a necessidade de o paciente ir ao hospital mensalmente para a reposição de anticorpos. A substância pode ser aplicada em casa uma vez por semana.
A opção representa mais qualidade de vida para a pequena Bárbara Marques da Costa, 6 anos, que sofre com a síndrome de DiGeorge. A mãe de Bárbara, Kátia Marques, explicou que algumas vezes a filha não conseguiu receber a medicação pela dificuldade de mantê-la imóvel por muito tempo e de encontrar a veia.
“A aplicação subcutânea é muito mais confortável, menos estressante, porque são crianças com uma série de questões a lidar e, pela baixa imunidade, devem evitar sair muito, permanecer em aglomeração que existe em hospital”, comentou Kátia, que aplica a infusão na própria filha.
Bárbara faz uso do medicamento obtido por meio de uma ação judicial, que obrigou o Estado a pagar a importação do produto. Segundo Kátia, cada frasco custa, em média, R$ 2 mil e a maioria usa meia dúzia por mês.
Estima-se que haja mais de 19 mil pessoas com imunodeficiência primária, segundo levantamento do Grupo Brasileiro de Imunodeficiências Primárias. São mais de 150 doenças crônicas que atacam o sistema imunológico.
Em geral, pacientes adultos levam, em média, 4 a 5 horas para aplicar o medicamento na veia. Para as crianças, o tempo pode chegar a até 40 minutos. A versão subcutânea feita em casa pode ser ministrada enquanto o paciente está concentrado em outra atividade.
A pesquisadora e médica responsável pelo Setor de Imunologia Clínica do Departamento de Pediatria da Universidade Federal de São Paulo-Escola Paulista de Medicina, Beatriz Tavares Costa Carvalho, atende a mais de 100 pacientes que fazem uso da imunoglobulina intravenosa.
Ela destacou que o medicamento aplicado na pele também oferece menos eventos adversos. “O medicamento por via intravenosa causa náusea, dor de cabeça, calafrio. Raramente esses eventos ocorrem com a aplicação subcutânea”, explicou.
“Além disso, pela via intravenosa é preciso dar uma quantidade muito grande e a proteína vai se sendo degradada aos poucos. Quando você divide essa quantidade em quatro vezes, o nível de imunoglobulina é muito mais constante e muito mais fisiológico”, acrescentou.
Beatriz explicou ainda que a comunidade médica e entidades de pacientes esperavam há mais de nove anos pela versão subcutânea, que é utilizada em mais de 51 países e, em alguns, há mais de 25 anos.
Segundo ela, a próxima luta dos movimentos e entidades é incorporar o novo tratamento ao Sistema Único de Saúde (SUS). “Agora, com a aprovação da Anvisa, é muito provável que o tratamento seja ofertado pelo SUS, pois a nova tecnologia não é mais cara que a imunoglobulina por via intravenosa”.